Recuperação de veículos roubados cai pela metade
Publicada em: 02/09/2011

Assalto vai do susto ao trauma
A professora Kátia Vianna, 52 anos, é uma das vítimas da ousadia dos ladrões e da ineficiência da polícia. No último dia 8, ela teve o carro furtado por volta das 9 horas nas imediações do Cemitério Água Verde, em Curitiba. O veículo – um modelo Celta com apenas três meses de uso – não foi encontrado até hoje.
Kátia lembra do susto que levou quando saiu do cemitério e não encontrou o carro onde havia deixado. “Achei até que não tinha estacionado ali”, recorda. A confirmação do crime veio de um policial, que já estava trabalhando para notificar um outro furto ocorrido pouco tempo antes. “Quando cheguei, fiquei desnorteada. Como era segunda-feira, tinha ido ao mercado e enchido o tanque”, lamenta.

Trauma
A experiência de ter o próprio carro levado por ladrões é bastante traumática. O casal Simone Karam, 31 anos, e Rômulo Teixeira, 30, viveu isso há seis anos, na capital. Quando pararam em frente a um posto perto da Rua Júlia da Costa, no bairro Mercês, dois assaltantes bateram na janela. Um deles os mandou sair do carro, um Corsa. Outro, confuso e alterado, exigia que fossem para o banco de trás. O casal conseguiu negociar e sair do carro antes que ele fosse levado. O trauma demorou a passar. O medo de sair à noite se manteve durante muito tempo, contam. “Fiquei um mês dormindo com a luz acesa”, diz Simone. Segundo ela, a ousadia dos criminosos foi grande. “Tinha muita gente na rua, mas ninguém ajudou”, lembra. Neste caso, felizmente, o veículo foi recuperado.

Orientação
O delegado Luiz Carlos de Oliveira diz que a população pode se prevenir mais contra os furtos e roubos de veículos. “Não existem locais determinados para que esses crimes ocorram. Às vezes, as pessoas são surpreendidas na saída de casa”, afirma. Mas, segundo ele, as pessoas devem estar preparadas. “Se forem vítimas, jamais reajam ou se movimentem sem informar o ladrão”.
Qualquer movimento brusco, de acordo com o delegado, pode gerar uma reação negativa do bandido. Além disso, Oliveira lembra que qualquer medida para dificultar o crime é importante. O uso de travas ou de GPS e procurar deixar o carro em local seguro ajuda a evitar a ação dos ladrões.

Crime - Facilidade atrai ladrões
Veículos populares com poucos itens de segurança são os preferidos dos criminosos. Normalmente eles procuram facilidade para agir, mas, dependendo da “encomenda”, escolhem a dedo o veículo que será levado. De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), veículos importados estão na lista dos criminosos também. Os modelos I30 Hyundai e Honda Civic são os mais visados. Segundo o órgão, o crime é comum em qualquer horário. Há pouco tempo, o estado de Santa Catarina se tornou o destino de veículos furtados em Curitiba. Recentemente, foram fechados cinco desmanches em Joinville. Para o delegado Luiz Carlos de Oliveira, a implantação de um banco de dados no país com informações pessoais dos criminosos, inclusive com DNA e gravação de voz, ajudaria a reduzir esse tipo de crime. O banco daria suporte à investigação de todos os tipos de crimes. “Quando identificarmos o autor do crime, vamos encontrar o bem roubado”, afirma.

Um a cada três dos carros levados por criminosos no Paraná no primeiro semestre deste ano foi resgatado. É o segundo pior índice desde 2007.
A taxa de recuperação de veículos roubados ou furtados no Paraná caiu pela metade no primeiro semestre deste ano. Passou de 64% em 2010 para 36%. É a segunda pior média desde 2007, quando as estatísticas de criminalidade começaram a ser divulgadas pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). Entre janeiro e junho de 2011, 8.980 veículos foram levados por criminosos no Paraná – média de 49 ocorrências por dia. As cidades mais visadas pelos ladrões são Curitiba e região, Londrina, Maringá e Foz do Iguaçu. Só a capital registrou 3.971 roubos e furtos de veículos nos primeiros seis meses. Deste total, 34% voltaram para seus donos. Os números evidenciam dois problemas graves de segurança pública: a polícia não evita o crime e, pior, quase não recupera o veículo levado. “Não existe disponibilidade de material humano para isso [recuperar os veículos]”, reconhece o delegado-chefe da Divisão de Crimes Contra o Patrimônio da Polícia Civil, Luiz Carlos de Oliveira. Para resolver esse problema, o governo promete contratar mais 2.260 policiais civis até 2014.
A falta de efetivo pode até justificar o baixo índice, mas não esclarece o que motiva esses crimes e a falha em resgatar os veículos. O ex-comandante-geral da Polícia Militar paulista coronel Rui César Melo, especialista em segurança pública, acredita que outros fatores interfiram no trabalho. “Pode ser que a polícia não esteja dando a devida atenção”, afirma. Na opinião dele, a agilidade da polícia é fundamental na recuperação de veículos roubados. “Os carros têm rastreadores. A polícia também deveria ter em cada viatura um cadastro de veículos roubados”, sugere. De acordo com o coronel, o Paraguai e a Bolívia são grandes consumidores de veículos roubados no Brasil. Por isso, a participação da Polícia Federal e das polícias rodoviárias é decisiva para aumentar os índices de recuperação. “É fundamental que as polícias façam ações de controle nas estradas e na fronteira”, lembra.

Indústria do furto
Segundo o delegado Oliveira, há três destinos para os veículos roubados: a revenda com documentos falsos; a troca por droga ou para uso do tráfico; e o desmanche. Neste último, está uma das raízes do problema. Melo chama de “indústria do roubo e furto de veículos”. Excepcionalmente, veículos também são levados para uso em fugas de outros crimes.
Segundo a polícia, os desmanches existem porque há um mercado paralelo de autopeças no estado. Ou seja, a população é vítima dos crimes, mas colabora indiretamente para que os roubos continuem ocorrendo quando compram peças suspeitas por um terço do valor habitual. Normalmente, as lojas “esquentam” as peças com notas fiscais reais.
No entanto, segundo Melo, dificilmente os consumidores pagarão os preços reais por essas mercadorias. “É preciso um trabalho educativo com a população, mas ela vai buscar o preço baixo sempre. Por isso, é preciso fiscalização da polícia, da prefeitura, da Receita Federal, enfim, um trabalho ostensivo em cima dos estabelecimentos.”

Fonte: RPC


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